O QUE TÉCNICOS DE SEGURANÇA PODEM APRENDER SOBRE O TRABALHO DE PROFESSORES? QUESTIONAMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE DE PREVENÇÃO DE AGRAVOS À SAÚDE

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Amanda Aparecida Silva-Macaia
Ella Triumpho Avellar
Frida Marina Fischer

Resumo

Intervenções no ambiente escolar para redução do absenteísmo de professores em escolas públicas brasileiras usualmente recaem sobre o próprio professor. Em alguns casos são direcionadas a fatores presentes no ambiente de trabalho sem serem consideradas as interações que ocorrem entre eles. Este tema foi abordado em intervenção com o Laboratório de Mudança (LM). O LM é baseado na Teoria da Atividade Histórico-Cultural de Vygotsky e na Teoria da Aprendizagem Expansiva de Engeström; com potencial de transformar o objeto de uma atividade a partir da aprendizagem expansiva. Sua unidade de análise é um sistema de atividade humana que tem princípios como a multivocalidade e a historicidade do sistema, e possibilita compreender o processo de trabalho. O artigo aborda como pode ocorrer o aprendizado de técnicos de segurança do trabalho escolar sobre a relação entre sua atividade, cujo objeto é a melhoria das condições de trabalho na escola e prevenção de doenças, e a atividade dos professores. O LM foi desenvolvido em uma escola municipal, com a participação de dois técnicos, professores, gestores da escola e pesquisadores-mediadores da intervenção. Os técnicos perceberam a insuficiência da relação entre as atividades, de forma que não era satisfatória nem aos professores, e nem a eles próprios. Eles integraram aspectos psicossociais e organizacionais do trabalho docente aos conhecimentos já estabelecidos sobre fatores de risco visíveis ou mensuráveis do ambiente de trabalho. Há potencial para o desenvolvimento da atividade dos técnicos de segurança a partir das novas práticas experimentadas de forma coletiva com os sujeitos da atividade docente.

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Seção
Artigos
Biografia do Autor

Amanda Aparecida Silva-Macaia, Universidade de São Paulo

Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (2002), mestrado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2009) e doutorado em Ciências pela mesma faculdade. As pesquisas desenvolvidas inserem-se no campo da Saúde do Trabalhador/Saúde Pública. Fui bolsista das agencias CNPq e FAPESP. Tenho experiência profissional em docência, em educação à distancia, como tutora e orientadora de aprendizagem em cursos de especialização; na Atenção Primária à Saúde (Núcleo de Apoio à Saúde da Família); em projetos de humanização hospitalar, coordenação de brinquedoteca e de equipe de voluntários em hospital; consultorias na área da saúde do trabalhador, mediação de oficinas na área de educação popular em saúde e saúde do trabalhador.

Ella Triumpho Avellar, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Professora convidada para a Pós Graduação em Medicina do Trabalho da Universidade de Taubaté (UNITAU); médica do trabalho no grupo SERVENG; doutora em Ciências da Saúde pela USP - Universidade de São Paulo (2017); graduação pela UNESP - Universidade Estadual Paulista (1996) com mestrado em Saúde Coletiva pela mesma universidade (2005). Atuou como consultora para a Coordenação da Área Técnica de Saúde do Trabalhador (COSAT) do Ministério da Saúde e para a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS); Experiência em instituições públicas e privadas em áreas relacionadas à Saúde Ocupacional, Medicina do Trabalho e Administração em Saúde.

Frida Marina Fischer, Universidade de São Paulo

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo ( USP), (1971), mestrado em Saúde Pública pela USP(1980) e doutorado em Saúde Pública pela USP (1984). Realizou pós-doutorado no Institute of Occupational Health (Dortmund, Alemanha, 1984), Especialização em Ergonomia (Instituto de Psicologia da USP). Desde agosto de 1998 é professora titular da Universidade de São Paulo. Faz parte do Conselho Científico da Associação Brasileira de Ergonomia. É membro da Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Foi presidente da Working Time Society e chair do SubComitê da ICOH Shiftwork and Working Time, de 2010 a abril de 2018. Foi eleita membro do Board da International Commission on Occupational Health em abril de 2018 por um período de três anos. É editora associada da Revista de Saúde Pública desde 2005; Editora Associada da Revista Brasileira de Epidemiologia; Editora científica da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho ( juntamente com a Prof. Elizabeth Dias). Membro do Board do Journal of Occupational Health Psychology e Contributing Editor da American Journal Industrial Medicine. Tem experiência em pesquisa e ensino na área de Saúde Coletiva, Saúde Pública, com ênfase em Saúde do Trabalhador, atuando principalmente nos seguintes temas: ergonomia, doenças relacionadas ao trabalho, organização do trabalho, trabalho em turnos e noturno, envelhecimento funcional precoce (early aging), trabalho de jovens adultos e de adolescentes. Parecerista ad hoc de agências de fomento nacionais (CNPq, CAPES, FAPESP, entre outras). Parecerista ad hoc de vários periódicos nacionais e internacionais. Em 2012 recebeu o título de Fellow da International Ergonomics Association. Em setembro de 2019 recebeu o título de Fellow da Working Time Society. Bolsista de Produtividade do CNPq, IB.

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